A fábrica de confecções Algot, das
Fontainhas, foi criada em 1966 por um industrial sueco do ramo e começou a
laboração em Julho de 1967; trabalhou normalmente até 1973. Após o 25 de Abril,
entrou num período conturbado, agravado talvez por problemas na fábrica-mãe,
que a levou à falência em 1976.
Em 1978, foi adquirida por um marinheiro
também sueco que a aguentou até 1981, altura em que abandonou o país,
deixando-a afundada em dívidas.
Seguiu-se uma paragem na produção até
ser adquirida, em 1983, por António Queirós, por 25.000 contos, que a manteve
até 1995.
Esta fábrica e o processo lento mas
imparável que conduziu à sua destruição são, na segunda metade do séc. XX, um
acontecimento maior para Balasar.
A empresa teve um crescimento rápido:
começada com um reduzido número de trabalhadores, em 1974 já empregava 700
mulheres, que eram trazidas de perto e de longe em dezenas de autocarros.
Fotografia
aérea das instalações da Algot em tempo em que a empresa ainda laborava.
Nos anos iniciais ela devia valer uma
mina de ouro para os donos. Mas foi no Verão de 1973 que aconteceu o primeiro
sobressalto: um motorista sueco informou alguém que na pátria dele as
empregadas da firma ganhavam uma coroa à hora, uns 30$00, enquanto as de cá
ganhavam 3$50. Isso levou a uma ruidosa manifestação das trabalhadoras, uma
greve: pediram 10$00 à hora. Alguém porém vaticinou: - Se se cede hoje, elas
amanhã pedem 20$00. Mas decidiu-se que receberiam 9$50.
Entretanto no ano seguinte aconteceu o
25 de Abril e a dimensão da empresa tornou-a apetitosa para os activistas de
esquerda do tempo, que destruíam o tecido produtivo do país em nome das suas
ideias colectivistas.
Sobre este período, encontrámos num
blogue algumas heroicidades de tal gente:
1 de Fevereiro de 1975 – Foi nomeado um
representante da Direcção dos Serviços de Relações do Trabalho, do Porto, para
mediar o conflito laboral na Algot
Internacional Confecções.
2 de Fevereiro de 1975 – O patronato
tenta reocupar a fábrica da Algot Internacional
Confecções, na Póvoa de Varzim, sendo impedido pelos trabalhadores.
3 de Fevereiro de 1975 – O Plenário de Trabalhadores da Algot
Internacional Confecções, na Póvoa de Varzim, entrega a chave da empresa
ao delegado do Ministério do Trabalho, depois de 26 dias de greve.
Era o PREC em toda a sua cegueira. Mas
as coisas ainda se remediaram algum tempo.
Em breve porém a Algot abria falência.
Foi depois negociada, em 1978, activo e
passivo, pelo valor simbólico de uma coroa sueca. Mas o novo dono não vinha com
boas intenções, queria era sugar quem lhe aparecesse à frente, até o Estado. E
fê-lo enquanto pôde.
Consegui “facilmente empréstimos da
banca ou dos organismos estatais, usando os financiamentos em proveito próprio
ou até enviando divisas para o estrangeiro, através de subfacturação, e
admitido pessoal, só com o intuito de receber subsídio por criação de emprego”[1].
Segundo uma das nossas fontes, o número de empregados chegou então a 1700.
Página inicial do artigo d’O Comércio da Póvoa de Varzim, de 31 de Janeiro de 1985.
O correspondente de Balasar para o
semanário A Voz da Póvoa, em 17 de
Novembro de 1981, referia-se à situação vivida na fábrica:
Causa-nos imensa tristeza ver fechados
os portões da Algot, em Fontainhas.
Judas enforcou-se de remorsos por trair
Cristo. Não terão remorsos essas “meninas e meninos” que, levados por
demagogias revolucionárias de arautos de novas ideias abrilinas, achincalharam
o antigo patrão, levando-o ao ponto de abandonar, vendendo-a, uma empresa desta
dimensão?
Não quererão cantar novamente, agora, a Grândola, Vila Morena? Cantar não
cantam, mas com certeza que choram a situação que perderam com as atitudes que
tomaram, levados pelas palavras dos profissionais agitadores.
Que lhes sirva de lição e que seja
alerta para aqueles que têm emprego certo e o não queiram perder, perdendo ao
mesmo tempo o pão de cada dia e a segurança no futuro.
“Seguiu-se um ano de paragem em que os
trabalhadores apenas permaneciam nas instalações da empresa, recebendo
subsídios de sobrevivência da Secretaria de Estado do Emprego. Atendendo à
situação caótica e indefinida, esta entidade estatal resolveu contactar vários
empresários tentando negocial a empresa”[2].
António Queirós aceitou “as condições
pré-estabelecidas pela Secretaria de Estado, comprou a empresa, sendo uma das
principais cláusulas do protocolo entre as duas partes proceder ao fecho da fábrica
pelo período de cerca de um ano, para a sua reestruturação. Neste período a
S.E.E. deveria pagar aos trabalhadores o subsídio de desemprego”.
Em Março de 1983, a Algot reabriu com
cerca de 200 trabalhadores, sendo no ano seguinte readmitidos mais 300. A
intenção era de os ir readmitindo até à totalidade.
Leia-se agora este fragmento da
correspondência d’ O Notícias da Póvoa de
Varzim, 23 de Maio:
Moderno prédio de habitação e comércio.
Na manhã de quarta-feira, dia 16 de
Maio, um grupo de sindicalistas do Sindicato dos Trabalhadores de Vestuário,
Lavandarias e Tinturarias do Distrito do Porto e um grupo de operárias ainda
não reintegradas e aliciadas por aqueles tentaram entrar junto com as
trabalhadoras e trabalhadores na Fábrica Algot de Fontainhas, Balazar, Póvoa
de Varzim, com fins pouco claros. Já se vê que os trabalhadores reagiram e
houve confronto de trabalhadores contra trabalhadores onde os sindicalistas
foram receber tratamento e aquele grupo de mais mirones que outra coisa foi
dispersando com a valiosa ajuda da GNR da Póvoa de Varzim que olhou pelo bom
senso e conseguiu. Tudo isto, e mais o panfleto dirigido à população, induz em
erro o menos informado nestas coisas pois o Sr. Brandão Queiroz nada deve aos
operários reintegrados ou não reintegrados.
A situação há-de se ter remediado.
Assim, na Festa de Natal da Algot, de 1984, o novo dono pôde dirigir estas
palavras de esperança aos seus funcionários e respectivos filhos[3]:
Outro prédio recente de habitação e comércio.
Já passaram dois anos desde a data em
que assumi a gerência desta empresa.
É por isso, hoje, a segunda vez que
tenho a enorme felicidade de comungar convosco e com os vossos filhos a Festa
de Natal.
Sou um homem que ouço, sofro e atendo,
por princípio, aos pedidos e às situações, muitas vezes drásticas, dos
trabalhadores.
Continuo no entanto a pensar que, ao não
ceder há um ano, na permissão da entrada de todos os trabalhadores, contribuí
decididamente para que a Algot se recuperasse financeiramente e dentro em breve
esteja recuperada economicamente.
Há um ano trabalhavam nesta casa 220
trabalhadores. Este ano trabalham aproximadamente mais 100.
Pela razão de estarem a ser reintegrados
progressivamente, foi possível chegar onde chegámos. E a situação em que nos
encontramos hoje é uma situação financeiramente desafogada. E, como testemunho
do que vos digo, aproveito este dia para vos anunciar que nos dois primeiros
meses do próximo ano serão reintegrados todos os trabalhadores que estão em
casa.
Chegando a esta altura é bom recordarmos
que continuamos a fazer todos os possíveis para que vos seja pago pela
Secretaria de Estado do Emprego aquilo que vos é devido. Como esse trabalho tem
que ser nosso, não vale a pena alongarmo-nos sobre esse problema.
Não deixo passar em claro, nem o poderia
fazer, lembrar que esses trabalhadores só virão para cá, pelo vosso esforço.
Pelo vosso enorme esforço e pela dedicação que têm demonstrado pela vossa
empresa.
Todos eles terão que ser, e serão,
recebidos com muito carinho.
Esta casa é deles também.
No entanto, devo dizê-lo, todos eles
terão que trabalhar nesta casa como vós. O melhor que puderem e souberem.
Isto é uma obrigação que exigirei de
todos.
Julgo que em traços largos vos dei uma
ideia da situação da empresa que todos ajudámos a construir.
Era isso que desejava. Que acreditassem
na Algot, soubessem que se todos continuarem a ser os óptimos trabalhadores que
têm sido até agora, de certeza que não tereis necessidade de vos preocupardes
quanto ao futuro.
Para finalizar desejo a todos os
convidados um Bom Natal, em especial aos trabalhadores e familiares desta nossa
casa, Algot.
Estas
perspectivas prometedoras já se anunciavam no artigo d’O Comércio da Póvoa de Varzim.
A Algot veio a encerrar em 1995, ao
tempo da crise do Vale do Ave.
A sua história é indissociável da
actuação dos sindicatos, que tiveram um reiterado papel de bloqueio e
destruição. Entre os agitadores que aí vieram contam-se a Ilda Figueiredo e a Zita Seabra.
A família Algot preparava-se
originalmente para investir em Mindelo. Na sua vinda para as Fontainhas entra o
genro do Chefe Sá – que tinha experiência no ramo da tecelagem e que era dono
de parte do terreno onde a empresa foi instalada.
Além das fontes de informação que mencionámos
para esta síntese sobre a Algot, usámos um testemunho gravado de um antigo
funcionário da empresa.
Na
actualidade
Quem se dirige da Póvoa de Varzim para
Famalicão não deixa notar, ao meio desse trajecto, que as Fontainhas são o
lugar que mais se destaca pelo seu ar urbano: ergueram-se ali vários grandes
prédios de habitação e comércio, há duas modernas bombas de combustível,
agências bancárias, pequenas indústrias, cafés, farmácia, etc. As construções
recentes convivem porém com outras quer mais antigas quer mesmo bastante
modestas. O lugar possui a antiga escola primária.
Modernas
instalações bancárias nas Fontainhas.
Aparentemente, o fecho da Algot não
afectou muito o lugar, mas a sua expansão futura estará condicionada por uma
oferta de emprego que ali fixe as pessoas.
Boa tarde,
ResponderEliminarEu sou o Quim das caldeiras Nine. A Algot foi a primeira fábrica em que eu trabalhei. Com catorze anos comecei a trabalhar e desde ai vivi muitos momentos com os meus colegas, momentos que nunca esquecerei...
Infelizmente o tempo não volta atrás, mas, se pudesse ainda lá iria! Muitos Momentos inesquecíveis passei com eles, mas a verdadeira pergunta é: Vou voltar a vê-los?
Por isso, se alguém dos meus amigos me estiver a ver, faça o favor de me conectar...
Um grande abraço,
Joaquim Machado
Em que ano trabalhou lá? Lembra-se quem era a companhia de seguros de Acidentes de Trabalho. Dava-me muito jeito saber. Trabalhei desde 1969 a 1974.
EliminarPreciso de saber a companhia de seguros para requerer o tempo em que estive parado por acidente de trabalho. Esse tempo conta para a minha baixa reforma ser um bocadinho melhor, segundo a contabilista!!!
EliminarJoaquim machado tenho uma foto da equipa algot que gostava de partilhar com copias e para fazer uma nova equipa . 02-03-2016 um grande abraço.
ResponderEliminarSr. Joaquim Machado, se acha que a sua foto pode ajudar a melhorar o meu trabalho sobre a Algot - e com certeza pode - envie-me cópia se faz favor para jsf0449@gmail.com. Obrigado.
ResponderEliminarSr.Jose ja estou a tratar de lhe mandar a copia da foto.
ResponderEliminarSr.Jose se fosse pocivel juntar todos os jogadores que naquela altura jogabao para um almoco o encontro seria no cafe frente a Algot nao sei se ainda esta aberto amais de trinta e cinco anos nao passo la o casal trabaharão na Algot .Obrigado
ResponderEliminarDesculpe, tem erros...
EliminarDesculpe, tem erros...
EliminarDesculpe, tem erros...
EliminarSr.Jose se fosse pocivel juntar todos os jogadores que naquela altura jogabao para um almoco o encontro seria no cafe frente a Algot nao sei se ainda esta aberto amais de trinta e cinco anos nao passo la o casal trabaharão na Algot .Obrigado
ResponderEliminarSr Jose o segundo patrao da Algot se chamaba Sr Nilas eu nao sabia que tinha sido marinheiro .OBRIGADO
ResponderEliminarQquim araujo sou Quim das caldeirasNine trabahei na Algot i tambem fazia parte da equipa de futbol gostaria de encontrar os colegas que faziao parte tenho uma foto da Algot . Obbrigados
ResponderEliminarcolegas que me estam a ver digao alguma coisa pois estou sempre pronto ajudar colegas tenho a foto orginal para entregar as copias para todos desculpem os erros OBRIGADOS
EliminarSR JOSE FERREIRA sou quim das cadeiras encomtrei QUIM DO escritorio da ALGOT agora trabalha na ORCOPON povoa pode ser que tenha alguma coiza para dizer gostaba de encomtrar a todos com saude um abraco forte OBRIGADOS
ResponderEliminarSr. Joaquim Machado, nos meus planos estava publicar um livro de cerca de 200 páginas sobre as Fontainhas e nele falaria da Algot. Mas, depois de ter publicado já cinco livros sobre Balasar (falta ainda publicar um outro), mudei de ideias: desisti de publicar o livro sobre as Fontainhas. Isto dá muito trabalho e o resultado que obtenho é muito limitado. Sendo assim, agradeço o seu cuidado, mas não vou procurar o funcionário da ORCOPON (esta firma teve os escritórios por baixo da minha casa, aqui em Vila do Conde; agora mudaram-nos para a Varziela). De novo, muito obrigado.
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