A palavra Fontainhas nos documentos
antigos ocorre no singular e até no masculino: Fontainha, Fontainho. E
designava um vago e largo espaço. A forma feminina e plural parece ser adopção
bastante recente: em finais do séc. XIX era ainda comum escrever-se Fontainha.
Parece ter sido esta inscrição do edifício da estação do caminho-de-ferro que fixou o nome Fontainhas na sua forma de plural.
Em 1215, Afonso, prior de
S. Simão, fez contrato de concessão dum moinho a João Martins e sua esposa, D.
Maria (tratar-se-ia de gente algo nobre),
extensivo a seus filhos e netos. Este moinho ficava em Fontaíno (Fontainho). Em 1270, talvez a mesma D. Maria, já viúva, com um genro
e uma filha, emprazam o moinho a Pedro Miguéis e esposa. Este segundo documento
foi lavrado pelo tabelião de Rates.
Vejam-se as duas primeiras frases
destes documentos em tradução nossa:
Em nome de Deus, amém.
É este o acordo de firmeza perpétua que
eu, prior D. Afonso, de S. Simão, com o meu convento, fazemos a ti, João
Martins, e tua esposa, D. Maria, e aos vossos filhos e netos, a saber, dos nossos
moinhos que possuímos em Gargias,
onde chamam Fontaíno, e estão fixos
na margem do Este.
E
agora também as frases iniciais de 1270:
Em nome de Deus, amém.
Sabido seja a todos que este acordo
virem e ouvirem que eu, D. Maria, juntamente com o meu genro, Pedro Peres, e com a sua esposa, Maria
Amada, minha filha, vos damos e emprazamos a vós, João Miguéis, e vossa esposa,
Maria Anes, e a vós, João Peres, e vossa esposa, Maria Mateus, e a vós, Domingos Peres do
Outeiro, e à vossa esposa, Durance Peres, toda a nossa metade que
possuímos nos moinhos de Fontaíno, em
Gardas[1].
O Mons. José Augusto Ferreira, no seu opúsculo A Igreja e o Estado[2],
copia um documento de 1181 atribuído a D. Afonso Henriques que, na delimitação do
Couto do Mosteiro da Junqueira, menciona as Fontainhas, chamando-lhe Fontaína (Fontainha). Os limites do couto vinham da
“foz do Este, pelo rio Ave acima até ao rio da Povoação, e daí até ao cume do
monte de Lobos, e daí até ao porto de Fontaína”…[3]
Parece que a Fontainha ou Fontainho do
tempo era uma área bastante ampla: começava no rio, penetrava em Rates e porventura
em Macieira. Por outro lado, o porto (o
vau) da Fontainha e a ponte de Grades ficariam no
mesmo lugar…
Mas a palavra Fontainha ou semelhante
desaparece dos documentos posteriores durante muito tempo. Assim acontece no
Tombo da Comenda de 1608. Ao fazer-se a delimitação da freguesia com Macieira e
Rates, escreve-se:
Desce direito ao Outeiro da Mamoa de
Este; e daí, águas vertentes, até dar na estrada que vai de Barcelos para o
Porto, numa cruz que está diante da Venda
do Torrão, entre Guardãs, partindo
com a Comenda de S. Pedro de Rates; e da dita cruz, deixa a estrada que vai de
Barcelos para o Porto até dar num marco que está no pomar de Manuel Pires,
vendeiro da venda do Torrão, ao pé duma cerejeira.
Outro
tanto aconteceu em 1542:
Desta cangosta do Vale de Flores, parte
entre Balasar e Arcos e vai sempre pelo ribeiro abaixo até às bouças do
Reguengo e dali pelo valo da bouça, pelos valos, direito ao rio, até Aguaceiros
e de Aguaceiros abaixo até ao rio, e ficam as bouças da Quintã de Grefonso de
Balasar, e do rio vai para abaixo do Ruingala um pouco até à cangosta e pela
cangosta à pedra do couto.
Guardãs (a escrita do tombo de 1606 é
deficiente, ao menos segundo a cópia que possuímos) e Guardas serão Guardes…
A Venda do Torrão (mais tarde, do
Feiticeiro) será a antepassada da Estalagem do Torto (se é que não são a mesma
coisa) que o P.e Leopoldino menciona, mas ficaria em Macieira, onde há o campo
do Feiticeiro…
Num assento paroquial de Balasar, de
1782, menciona-se um “António Fernandes, da Vila de Rates, do lugar da
Fontainha”. Conhecem-se ratenses com o apelido Fontainha.
Nas Fontainhas há três marcos da Casa de
Bragança, que certamente já lá estavam em 1831, embora não fossem referidos:
delimitavam o antigo reguengo de Agistrim face à Comenda de Rates. Sabemos que houve
outros nas proximidades.
[1]
O nome
João Peres encontra-se nas Inquirições.
Estes documentos estão publicados no
livro de Sérgio Lira, O Mosteiro da
Junqueira – II (Colecção documental),
colecção História Local, Vila do Conde, 2002.
Parece que houve tempo em que Guardinhos era
mais representativo que Guardes; a situação ter-se-á depois
alterado.
[2]
FERREIRA, Mons. José Augusto, A Igreja e o Estado, Col. Ciência e
Religião, Liv. Povoense Editora, 1913.
[3]
… per ipsam focem de Alister e
inde per flumen Ave sursum usque rivulum de Apopulatione et inde usque ad
verticem montis de Lupis et inde usque ad ipsum portum de Fontaina.