terça-feira, 4 de junho de 2013

Balasar ou Fontainhas?

Fontainhas era uma novidade: ali não havia a actividade onde tradicionalmente as pessoas granjeavam o sustento, a agricultura; e mesmo assim prosperava.
Um tal H, no Idea Nova de 17 de Março de 1937, fala duma decisão tomada em Balasar e que felizmente se não concretizou: atribuir novo nome à freguesia, substituindo-o pelo de Fontainhas.

Tem sido por vezes objecto de animada discussão a mudança de nome da freguesia de Balasar deste concelho para Fontainhas, o seu lugar mais importante, pelo seu comércio, indústria e população da mesma freguesia. Não estranhamos esta discussão em volta da nova denominação escolhida, espontânea e livremente, pela Junta, depois de ouvir a opinião do povo de quem é representante, junto dos poderes públicos, porque já se deu o mesmo caso noutros tempos, segundo rezam as crónicas.
Antigamente, esta freguesia era constituída por duas: Santo Adrião de Gresufes, com a igreja paroquial no lugar de Além, e Santa Eulália do Casal, com a Igreja pa­roquial no lugar do mesmo nome. Como ambas fossem pequenas e de diminuto rendimento para os respectivos párocos, combinaram os habitantes de uma e outra unir-se, formando uma freguesia boa e rendosa, construindo uma nova igreja, em local mais central, sendo escolhido o terreno do actual cemitério.
Que Padroeira deveria ficar para a nova paróquia? Como a vizinha freguesia de Macieira de Rates tem por Padroeiro Santo Adrião, ficou combinado, ser Santa Eulália de Mérida, que ainda é hoje.
Como se havia de chamar a nova freguesia? Aqui divergiam as opiniões, porque cada povo defendia o nome da sua paróquia, até que resolveram dar lhe o nome de Balasar, nome que foram buscar a um lugar onde só há prédios rústicos e que fica entre os lugares do Matinho e Vila Pouca, no caminho de Gondifelos. Daí vem a denominação desta freguesia ser posterior à da sua congénere do concelho de Guimarães.
Convidado o povo da freguesia a escolher nova denominação para a sua terra, em obediência às determinações do novo Código Administrativo, mui livremente foi escolhido o nome de Fontainhas, por ser o local mais conhecido e im­portante da sua freguesia.
É verdade que a freguesia de Rates tem aí três casas; mas o resto, incluindo a estação do caminho-de-ferro, é de Balasar. Como Fontainhas já não é antiga sede de malfeitores e salteadores de prédios e de estradas, mas um local de gente honesta, trabalhadora e incansável no progresso da sua terra, é por isso digna de lhe ser prestada esta homenagem.
Por estes motivos, entendemos que, assim como os antigos foram buscar a nova denominação ao pequeno lugar de Balasar, assim os actuais paroquianos escolheram o nome do local mais progressivo para a denominação da sua freguesia. Honra lhes seja.

O P.e Leopoldino há-de fazer suas as ideias expostas, as certas e as erradas (que não são poucas), pelo que pode bem ser ele o autor do escrito.

O lugar das Fontainhas em 1936

Um breve artigo não assinado, mas bastante no estilo do P.e Leopoldino Mateus, de 12 de Novembro de 1936, saído no Idea Nova, faz uma avaliação do desenvolvimento que então se verificava no lugar das Fontainhas:


Fábrica da Cal, certamente já desactivada quando foi tirada a fotografia.

O lugar das Fontainhas, da freguesia de Balasar, deste concelho, ultimamente tem-se desenvolvido muito. Possui estação de caminho-de-ferro com grande movimento, carreira diária de camionetas, consultório médico e vai abrir uma farmácia, com o respectivo laboratório, dirigida pelos Srs. Fausto Barsa Cardoso, desta Vila, e Carvalho da Torre, de Macieira de Rates, formados na faculdade de Farmácia do Porto.
O seu comércio e indústria estão prósperos; possui vários e importantes estabelecimentos de mercearia, oficinas de calçado, funilaria e consertos de automóveis e bicicletas, fábrica de cal, de moagem e serra­ção de madeira.
A sua feira semanal, às sextas-feiras, é muito frequentada, fazendo-se bastantes transacções. Vai haver missa aos domingos na ca­pela restaurada do Sr. António Oli­veira Júnior. Tem alguns edifícios em construção e, se continuar neste progresso, não é para estranhar que, dentro de alguns anos, constitua uma nova freguesia.
Muito folgamos com o progres­so deste lugar, que outrora era um valhacouto de gatunos e salteadores.

Isto pode hoje não parecer muito, mas devia causar grande impressão na altura.


Inauguração duma Fábrica de Tecidos em 1948

No seu noticiário de 3 de Agosto de 1948 para o Idea Nova, escreveu o P.e Leopoldino:

Ontem procedeu-se à bênção da nova fábrica de tecidos, sita no progressivo lugar das Fontainhas. Presidiu à religiosa cerimónia o nosso Rev. Abade Leopoldino Rodrigues Mateus, assistindo os sócios, Srs. José António de Sousa Ferreira, José Ferreira da Silva e Sá, João de Sousa Ferreira e António Alves da Costa e suas famílias e mais pessoas.
A nova sociedade tem a firma ”Ferreiras, Sá & Costa, L.da”, fazendo a escritura no notariado da Comarca. No fim do acto, houve lauto banquete, presidido pelo Rev. Abade, que brindou à nova socieadade, desejando-lhe grande prosperidade. Tais são os votos dos homens bons da freguesia.

No artigo sobre toponímia, o mesmo P.e Leopoldino sintetizará assim o desenvolvimento da indústria nas Fontainhas:

Logo em 1880 um grupo de empreendedores, constituído por José de Sousa Ferreira Júnior, António Alves Torres, ambos de Arcos, e Manuel Lopes da Silva, da Casa de Guardes, desta freguesia, mandou construir a Fábrica da Cal (forno), ainda hoje propriedade e gerida pelo filho do primeiro societário, o Sr. José António de Sousa Ferreira.
Veio depois, em 1920, a Fábrica de Serração e Moagem, fundada pelos industriais Srs. José Domingues Cancela, José António de Sousa Ferreira, João de Sousa Ferreira, Bernardino José dos Santos, David José Rodrigues e José Fernandes Fontinha. Hoje, essa fábrica, com um grande alargamento de terreno e larga exportação de madeiras, pertence à firma Manuel Dias da Silva & C.ª.
Em 1948 é fundada a Fábrica de Tecidos pelos sócios José Ferreira da Silva e Sá, António Alves da Costa, José António de Sousa Ferreira e João António de Sousa Ferreira, todos homens devotados ao progresso do lugar e da freguesia.


Fragmento dum poema do poeta popular balasarense Celestino Miúdo, que teve honras de reprodução em impressão tipográfica e que descreve um passeio de empregados da Fábrica de Serração e Moagem das Fontainhas. 

José António de Sousa Ferreira
Industrial, político do Estado Novo, Vereador da Câmara Municipal, dirigente da União Nacional em Balasar

Em Março de 1937 entrou em funções na Póvoa de Varzim uma edilidade nova. Presidia o Dr. Abílio Garcia de Carvalho e tinha na vereação um balasarense adoptivo, de nome José António de Sousa Ferreira, genro de Manuel Ferreira da Silva e Sá. O jornal A Propaganda apresentou-o assim:

Industrial das Fontainhas, assenta-se a primeira vez nas cadeiras do Município mas a sua vida passada de honra e trabalho garante-nos a proficuidade do seu novo cargo. É um homem que todos respeitam e consideram porque é um carácter e um excelente coração.

O P.e Leopoldino menciona-o várias vezes nos seus noticiários. Integrou a comissão que criou a feira das Fontainhas, a que se encarregou de criar o cruzeiro paroquial, a duma visita pastoral.
Este vereador tinha a seu cargo as aldeias (como noutros tempos Manuel Joaquim de Almeida), mais o cemitério e o matadouro.
No Ensaio de Toponímia, diz o mesmo P.e Leopoldino que José António de Sousa Ferreira “conseguiu da câmara a abertura da estrada das Fontainhas a Rates e, sendo presidente da comissão local da União Nacional, a electrificação da freguesia e a abertura de novas estradas que muito a melhoraram”.
O Dr. Abílio Garcia de Carvalho teria nele pessoa para lhe dar muita informação sobre a Beata Alexandrina.


Largo das Fontainhas em 1949. Em primeiro plano, a casa do médico farmacêutico Arlindo Carvalho, com a respectiva farmácia. À esquerda, ao fundo, ficava a Fábrica de Tecidos.

O vereador Ferreira foi um bem sucedido pioneiro da indústria em Balasar. Embora herdasse do pai a propriedade da Fábrica da Cal (forno), foi um dos co-fundadores, em 1920, da Fábrica de Serração e Moagem e, em 1948, da Fábrica de Tecidos. Tudo nas Fontainhas.
Esta última fábrica alguma ligação deverá ter com a posterior e grande unidade fabril da Algot.
Em primeiro plano, a casa que pertenceu ao vereador Sousa Ferreira (a primeira). A mais recuada era a do seu irmão João António de Sousa Ferreira. 

José António de Sousa Ferreira era natural de Arcos e filho do professor local. A vereação de que fez parte empenhou-se no melhoramento da estrada para Fradelos pela Grandra.

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