Fontainhas era uma novidade: ali não havia a actividade onde
tradicionalmente as pessoas granjeavam o sustento, a agricultura; e
mesmo assim prosperava.
Um tal H, no Idea Nova de
17 de Março de 1937, fala duma decisão tomada em Balasar e que felizmente se
não concretizou: atribuir novo nome à freguesia, substituindo-o pelo de
Fontainhas.
Tem sido por vezes
objecto de animada discussão a mudança de nome da freguesia de Balasar deste
concelho para Fontainhas, o seu lugar mais importante, pelo seu comércio,
indústria e população da mesma freguesia. Não estranhamos esta discussão em volta
da nova denominação escolhida, espontânea e livremente, pela Junta, depois de ouvir
a opinião do povo de quem é representante, junto dos poderes públicos, porque
já se deu o mesmo caso noutros tempos, segundo rezam as crónicas.
Antigamente, esta
freguesia era constituída por duas:
Santo Adrião de Gresufes, com a igreja paroquial no lugar de Além, e Santa
Eulália do Casal, com a Igreja paroquial no lugar do mesmo nome. Como ambas fossem
pequenas e de diminuto rendimento para os respectivos párocos, combinaram os
habitantes de uma e outra unir-se, formando uma freguesia boa e rendosa, construindo
uma nova igreja, em local mais central, sendo escolhido o terreno do actual
cemitério.
Que Padroeira
deveria ficar para a nova paróquia? Como a vizinha freguesia de Macieira de
Rates tem por Padroeiro Santo Adrião, ficou combinado, ser Santa Eulália de Mérida,
que ainda é hoje.
Como se havia de
chamar a nova freguesia? Aqui divergiam as opiniões, porque cada povo defendia
o nome da sua paróquia, até que
resolveram dar lhe o nome de Balasar, nome que foram buscar a um lugar onde só
há prédios rústicos e que fica entre os lugares do Matinho e Vila Pouca, no caminho
de Gondifelos. Daí vem a denominação desta freguesia ser posterior à da sua
congénere do concelho de Guimarães.
Convidado o povo da
freguesia a escolher nova denominação para a sua terra, em obediência às
determinações do novo Código Administrativo, mui livremente foi escolhido o
nome de Fontainhas, por ser o local mais conhecido e importante da sua freguesia.
É verdade que a
freguesia de Rates tem aí três casas; mas o resto, incluindo a estação do caminho-de-ferro,
é de Balasar. Como Fontainhas já não é antiga sede de malfeitores e salteadores
de prédios e de estradas, mas um local de gente honesta, trabalhadora e incansável
no progresso da sua terra, é por isso digna de lhe ser prestada esta homenagem.
Por estes motivos,
entendemos que, assim como os antigos foram buscar a nova denominação ao pequeno
lugar de Balasar, assim os actuais paroquianos escolheram o nome do local mais progressivo
para a denominação da sua freguesia. Honra lhes seja.
O P.e Leopoldino há-de fazer suas as
ideias expostas, as certas e as erradas (que não são poucas), pelo que pode bem ser ele o autor do
escrito.
O lugar das Fontainhas em 1936
Um breve artigo não
assinado, mas bastante no estilo do P.e Leopoldino Mateus, de 12 de Novembro de
1936, saído no Idea Nova, faz uma
avaliação do desenvolvimento que então se verificava no lugar das Fontainhas:
Fábrica
da Cal, certamente já desactivada quando foi tirada a fotografia.
O lugar das
Fontainhas, da freguesia de Balasar, deste concelho, ultimamente tem-se
desenvolvido muito. Possui estação de caminho-de-ferro com grande movimento,
carreira diária de camionetas, consultório médico e vai abrir uma farmácia, com
o respectivo laboratório, dirigida pelos Srs. Fausto Barsa Cardoso, desta Vila,
e Carvalho da Torre, de Macieira de Rates, formados na faculdade de Farmácia do
Porto.
O seu comércio e
indústria estão prósperos; possui vários e importantes estabelecimentos de
mercearia, oficinas de calçado, funilaria e consertos de automóveis e
bicicletas, fábrica de cal, de moagem e serração de madeira.
A sua feira semanal,
às sextas-feiras, é muito frequentada, fazendo-se bastantes transacções. Vai
haver missa aos domingos na capela restaurada do Sr. António Oliveira Júnior.
Tem alguns edifícios em construção e, se continuar neste progresso, não é para estranhar que, dentro de alguns anos,
constitua uma nova freguesia.
Muito folgamos com o progresso deste lugar, que outrora era um valhacouto
de gatunos e salteadores.
Isto pode hoje não
parecer muito, mas devia causar grande impressão na altura.
Inauguração duma
Fábrica de Tecidos em 1948
No
seu noticiário de 3 de Agosto de 1948 para o Idea Nova, escreveu o P.e Leopoldino:
Ontem procedeu-se à bênção da nova
fábrica de tecidos, sita no progressivo lugar das Fontainhas. Presidiu à
religiosa cerimónia o nosso Rev. Abade Leopoldino Rodrigues Mateus, assistindo
os sócios, Srs. José António de Sousa Ferreira, José Ferreira da Silva e Sá,
João de Sousa Ferreira e António Alves da Costa e suas famílias e mais pessoas.
A nova sociedade tem a firma ”Ferreiras,
Sá & Costa, L.da”, fazendo a escritura no notariado da Comarca. No fim do
acto, houve lauto banquete, presidido pelo Rev. Abade, que brindou à nova
socieadade, desejando-lhe grande prosperidade. Tais são os votos dos homens
bons da freguesia.
No artigo sobre
toponímia, o mesmo P.e Leopoldino sintetizará assim o desenvolvimento da
indústria nas Fontainhas:
Logo em 1880 um grupo de
empreendedores, constituído por José de Sousa Ferreira Júnior, António Alves
Torres, ambos de Arcos, e Manuel Lopes da Silva, da Casa de Guardes, desta
freguesia, mandou construir a Fábrica da Cal (forno), ainda hoje propriedade e
gerida pelo filho do primeiro societário, o Sr. José António de Sousa Ferreira.
Veio depois, em 1920, a
Fábrica de Serração e Moagem, fundada pelos industriais Srs. José Domingues
Cancela, José António de Sousa Ferreira, João de Sousa Ferreira, Bernardino
José dos Santos, David José Rodrigues e José Fernandes Fontinha. Hoje, essa
fábrica, com um grande alargamento de terreno e larga exportação de madeiras,
pertence à firma Manuel Dias da Silva & C.ª.
Em 1948 é fundada a Fábrica
de Tecidos pelos sócios José Ferreira da Silva e Sá, António Alves da Costa,
José António de Sousa Ferreira e João António de Sousa Ferreira, todos homens
devotados ao progresso do lugar e da freguesia.
Fragmento dum poema do poeta popular balasarense Celestino Miúdo, que teve honras de
reprodução em impressão tipográfica e que descreve um passeio de empregados da
Fábrica de Serração e Moagem das Fontainhas.
José
António de Sousa Ferreira
Industrial, político do Estado
Novo, Vereador da Câmara Municipal, dirigente da União Nacional em Balasar
Em Março de 1937 entrou em funções na
Póvoa de Varzim uma edilidade nova. Presidia o Dr. Abílio Garcia de Carvalho e
tinha na vereação um balasarense adoptivo, de nome José António de Sousa
Ferreira, genro de Manuel Ferreira da Silva e Sá. O jornal A Propaganda
apresentou-o assim:
Industrial das Fontainhas, assenta-se a
primeira vez nas cadeiras do Município mas a sua vida passada de honra e
trabalho garante-nos a proficuidade do seu novo cargo. É um homem que todos
respeitam e consideram porque é um carácter e um excelente coração.
O P.e Leopoldino menciona-o várias vezes
nos seus noticiários. Integrou a comissão que criou a feira das Fontainhas, a
que se encarregou de criar o cruzeiro paroquial, a duma visita pastoral.
Este vereador tinha a seu cargo as
aldeias (como noutros tempos Manuel Joaquim de Almeida), mais o cemitério e o
matadouro.
No Ensaio de Toponímia, diz o mesmo P.e
Leopoldino que José António de Sousa Ferreira “conseguiu da câmara a abertura
da estrada das Fontainhas a Rates e, sendo presidente da comissão local da
União Nacional, a electrificação da freguesia e a abertura de novas estradas
que muito a melhoraram”.
O Dr. Abílio Garcia de Carvalho teria
nele pessoa para lhe dar muita informação sobre a Beata Alexandrina.
Largo
das Fontainhas em 1949. Em primeiro plano, a casa do médico farmacêutico
Arlindo Carvalho, com a respectiva farmácia. À esquerda, ao fundo, ficava a Fábrica de
Tecidos.
O vereador Ferreira foi um bem sucedido pioneiro
da indústria em Balasar. Embora herdasse do pai a propriedade da Fábrica da Cal
(forno), foi um dos co-fundadores, em 1920, da Fábrica de Serração e Moagem e,
em 1948, da Fábrica de Tecidos. Tudo nas Fontainhas.
Esta última fábrica alguma ligação
deverá ter com a posterior e grande unidade fabril da Algot.
Em primeiro plano, a casa
que pertenceu ao vereador Sousa Ferreira (a primeira). A mais recuada era a do
seu irmão João António de Sousa Ferreira.
José António de Sousa Ferreira era
natural de Arcos e filho do professor local. A vereação de que fez parte
empenhou-se no melhoramento da estrada para Fradelos pela Grandra.
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