terça-feira, 4 de junho de 2013

O Coro Regional do Norte na inauguração da Escola das Fontainhas

A escola das Fontainhas foi inaugurada em 18 de Outubro de 1952, da parte da manhã, no mesmo dia em que, da parte da tarde, ia ser inaugurado o magnífico edifício do Liceu da Póvoa de Varzim. O Coro Regional do Norte, fundação do Dr. Josué Trocado, abrilhantou a cerimónia nas Fontainhas. O Idea Nova de 25 de Outubro de 1952 noticiou assim o evento: 

Escola Primária das Fontainhas.

Revestiu-se de grande brilhantismo a inauguração da nova escola do lugar das Fontainhas, da freguesia de Balasar, deste concelho, que já conta com cinco salas de aula a funcionar. Dignaram-se assistir à inauguração o Ex.mo Sr. Dr. Veiga de Macedo, ilustre Subsecretário da Educação Nacional, e o Sr. Governador Civil do Distrito do Porto, que eram esperados pelos Srs. Presidente da Câmara, Chefe da Secretaria, Eng. Canelas, Dr. Josué Trocado, Dr. João Costa, Pároco, Regedor, Junta e União Nacional da freguesia, professores e alunos das escolas e muito povo que acompanhou os ilustres visitantes à nova escola, que, depois de cortada a fita simbólica, foi benzida pelo Rev. Pároco, seguindo-se a sessão solene em que o Sr. Presidente da Câmara agradeceu, em nome da Junta da Freguesia, a criação daquela escola, respondendo-lhe o Sr. Dr. Veiga Macedo com um rápido discurso em que historia a fundação ou antes a transformação do posto na escola mista das Fontainhas, declarando que o Estado Novo procura difundir a instrução para combater o analfabetismo e atender às justas reclamações do povo.
Em seguida o Coro Regional do Norte, com sede nas Fontainhas, sob a regência do seu fundador e director, Dr. Josué Trocado, cantou com muita arte lindas canções regionais que foram muito apreciadas a aplaudidas pelos circunstantes.
O Sr. José Ferreira da Silva e Sá, em nome da Junta, de que é Secretário, leu uma fundamentada exposição, fazendo ver a necessidade da criação duma nova escola no lugar de Vila Pouca para evitar as grandes caminhadas das criancinhas em dias de temporal. Sua Excelência, o Sr. Dr. Veiga Macedo, ouviu com atenção a exposição, prometendo a transferência da professora da escola do desdobramento para o lugar de Vila Pouca logo que haja sala adequada para esse fim. Estavam presentes os Srs. Inspector e Delegado escolares que tomaram conhecimento dessa determinação e autorizados a cumpri-la.
Seguiu-se um lauto almoço regional que decorreu no meio de muita cordialidade, brindando os ilustres visitantes o Rev. Leopoldino Mateus e o Sr. Dr. Josué Trocado. No meio de grandes saudações, o Sr. Dr. Veiga Macedo e Governador Civil vieram para esta vila inaugurar o nosso liceu.


O Coro

O Dr. Josué Trocado (1882-1962), que criara o bem-sucedido Orfeão Povoense, organizou em Arcos o “Coro Regional do Norte, Orfeão Misto a Quatro Vozes”.
A sua fundação remonta a 1950 e, se os primeiros ensaios decorreram na sua quinta do Rego[1], posteriormente passaram para as Fontainhas, para casa do Sr. José Ferreira. Era formado por pessoas das freguesias de Arcos, Balasar, Rio Mau, Junqueira, Rates, Macieira de Rates, Gueral e Gondifelos.
O P.e Leopoldino evoca esse tempo numa notícia de 10 de Março de 1951, no Idea Nova:


O nosso amigo Sr. Dr. Josué Trocado anda ensaiando nas Fontainhas grupos de rapazes e de raparigas para formar um orfeão por elementos daquele lugar e das freguesias vizinhas. Oxalá que vingue, para educação da juventude e para cooperar na festa da imagem da Senhora Peregrina, em dia 5 de Setembro, em que devia ser sensibilizador os cânticos serem entoados não por 100, mas por 1000 pessoas, segundo as determinações da Igreja.

O coro teve actuações no Casino da Póvoa de Varzim, no Póvoa Cine, etc., tendo sido gravado na Fábrica de Tecidos das Fontainhas um concerto depois transmitido pela Rádio Renascença.
O orfeão acabou em 1956 por doença do seu maestro – longa doença provocada por uma queda.
O Dr. Josué Trocado[2] foi professor metodólogo, maestro e criador musical; frequentara a Gregoriana e tinha em razão disso, espalhada pelo mundo, gente das suas relações nas posições mais relevantes. Foi amigo de Salazar.
Nos seus noticiários, o P.e Leopoldino menciona frequentemente o Dr. Josué Trocado.


Grandiosa recepção à Imagem Peregrina de Nossa Senhora da Fátima, nas Fontainhas, em 5 de Setembro de 1951

No Idea Nova de 15 de Setembro de 1951, o P.e Leopoldino manifesta o seu grande regozijo pela recepção prestada à Imagem Peregrina de Nossa Senhora de Fátima aquando da sua passagem nas Fontainhas, no dia 5 anterior. De notar a presença de D. António Bento Martins Júnior (que era da vizinha freguesia de Arcos) e do Rev. Arcipreste.
O Coro Regional do Norte abrilhantou o evento.
Coro Regional do Norte, Orfeão Misto a Quatro Vozes, fotografado a 23 de Dezembro de 1951, antes de ir actuar no Casino. 

Não podemos deixar de louvar o povo crente de Balasar e a Comissão presidida pelo nosso Rev. Abade pela grandiosa recepção que fizeram ao anoitecer do dia 5 à bendita imagem peregrina de Nossa Senhora da Fátima. A larga Avenida da Feira estava lindamente ornamentada com belas decorações e artísticos tapetes de flores, bem como as janelas dos prédios vizinhos, embandeiradas com colchas.
No grande recinto, reuniu-se a quase totalidade das freguesias de Balasar, Rates e Macieira, com os seus párocos e organismos da Acção Católica e Confrarias de Balasar. Foram vistas também muitas pessoas dessa vila, de Bei­riz, Courel, Gueral e de outras partes. Os cânticos, dirigidos e acompanhados pelo Sr. Dr. Josué Trocado, foram ampliados por um alto-falante dessa vila.
Quando se aproximava a noite, o recinto, já iluminado, recebeu a bendita Imagem, onde a esperava o povo crente, que a vitoriava com palmas, vivas, lenços brancos, bandeiras, cânticos, orações e lágrimas. Enquanto os foguetes estralejavam nos ares, o Sr. Arcebispo, o Sr. Arcipreste e os Rev.os Párocos acompanhavam a Imagem por entre alas de crianças, adultos e doentinhos, implorando a chorar as graças da Senhora de Fátima. Foi uma manifestação rápida, mas linda, sentimental e digna da Mãe do Céu!
Já na véspera tinham ido a essa vila assistir às festas da Se­nhora as Confrarias, crianças da Cruzada, Juventude Católica Feminina, em comboio especial organizado pelo C.P. a pedido do Chefe Oliveira, o que muito concorreu para o bom êxito da recepção das Fontainhas. Parabéns a todos.

Nicho recente em honra de Nossa Senhora de Fátima, nas Fontainhas.


[1] Esta quinta, a cerca de 200 m do limite de Arcos com Balasar, tinha pelos vistos área significativa de cultivo, mas a casa é bastante humilde. Todavia Salazar terá lá estado uma ou mais vezes. A nosso ver, terá sido apenas quando veio a ver o restauro da Igreja Românica de Rates, em 1938, certamente por meados do ano. Também lá foi recebido um arcebispo, supomos que D. Manuel Mendes, de Évora, em Junho de 1954.
[2] Este poveiro é avô do Prof. Diogo Freitas do Amaral, que abre o livro de Abel Carriço com uma “nota prévia”. Existe do Dr. Josué um depoimento notável sobre a Beata Alexandrina. Ele visitara-a e preparara-se cuidadosamente para o momento, levando um conjunto de perguntas sobre matérias teológicas para lhe colocar. “Ficou encantado com a simplicidade e sabedoria com que ela respondeu a todas as suas objecções”. Tendo-lhe perguntado se ela sofria muito, obteve esta resposta: “Sim, muito, mesmo muito. Mas é um sofrimento que se não sabe explicar. Sofre-se e sente-se necessidade de sofrer mais. É um sofrer por amor de Nosso Senhor”. E a visita terminou com este diálogo:
- Faz-me lembrar, Alexandrina, o caso de Santa Teresa (de Ávila), que dizia a Nosso Senhor: “É assim que Tu tratas os amigos! Por isso tens tão poucos!...” Ao que a Alexandrina atalhou:
- E não sabe o Sr. Doutor que um verdadeiro amigo é um tesouro?!
O Dr. Josué Trocado era cunhado da conhecida poveira D. Virgínia Campos (que tinha raízes balasarenses).

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